terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Rota 66, pancadaria na USP e a mídia como fundamentadora


Dia 17 de junho de 2009 a Polícia Militar entrou em confrontou com alunos e funcionários da USP durante uma manifestação. A justificativa oficial, apresentada pela PM na mídia, foi a de que durante a manifestação, uma patrulha da PM foi agredida por estudantes dentro do Campus Butantã, resultando nas ações da PM, que não tinha outra solução senão dispersar os manifestantes na base do cacete e do gás lacrimogêneo.

Lembrei deste episódio muitas vezes lendo Rota 66, do jornalista Caco Barcellos. Ao longo do livro somos expostos à brutalidade da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), tida como uma das divisões de elite da Polícia Militar de São Paulo. A Rota é conhecida pela sua violência. Essa violência é sempre fundamentada, pela própria Rota, dizendo que eles lidam com criminosos muito violentos, inclusive o tipo mais odiado por todos, os estupradores.

Rota 66 mostra que não é bem assim. O primeiro caso exposto por Caco Barcellos é o caso da Rota 66, que após uma longa perseguição pelas ruas de São Paulo, resultando em uma batida, os membros da Rota assassinaram três rapazes que desceram de um Fusca implorando por suas vidas. O interessante deste caso é que, pela primeira vez, os assassinados eram garotes de classe alta, o que causou uma investigação aprofundada por parte da perícia. Após pronto, o inquérito mostrava que houve excesso de violência, fraudes por parte dos polícias e três garotos assassinados sem necessidade, de forma pra lá de brutal. Nem assim os policiais foram condenados ou deixaram de receber menções honrosas por seu bravo trabalho.

Como esse, muitos outros casos são apresentados, sempre com os mesmos elementos. Perseguição desnecessária - partindo apenas de suspeitas por parte do policiais-, assassinatos, adulteração da cena do crime e mentiras.


Os casos, tanto os descritos no livro como o caso da pancadaria na USP, por mais que sejam totalmente diferentes - tendo em comum alguns pontos, como o excesso de força da PM – têm em comum um ponto de extrema importância, a utilização da mídia como fundamentadora para essas ações. Em todos casos descritos no livro, os autores dos assassinatos sempre se referem aos mortos como criminosos cruéis e a mídia sempre reproduziu estas afirmações, como se fossem justificativas para surras em públicos e tortura. Em nenhum momento coloca-se em dúvida se os argumentos de uma entidade tão importante para a sociedade, que é a Polícia Militar, sejam reais ou não, apenas aceita-se.

No caso da USP somos colocados novamente frente ao problema da fundamentação, a mídia reproduziu o argumento dos militares de que os alunos agrediram os policiais (fato que foi desmentido por alunos que se encontravam no local, em conversas pela USP) e com isso a sociedade aceita os absurdos que foram cometidos, os excessos de violência e compartilham da visão de que vagabundo tem mais é que apanhar e assim a vida continua. Os inocentes vão sendo mortos e os argumentos dos assassinos, reproduzidos por uma mídia viciada e, de certa maneira, preguiçosa, são aceitos e compartilhados pela sociedade.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Amp (ou não), Black Drawing Chalks (metade dele), MQN e o direito de imagem

O SESC Pompeia tem uma choperia legal música ao vivo, ponto positivo. O ponto negativo é que ele fica, obviamente, na Pompeia. Nunca me arrisquei a assistir algum filme em Imax porque a única sala em São Paulo fica no Shopping Bourbon Pompeia. Black Drawing Chalks, MQN e Amp na chopeira? Lá vamos nós.

Marcado para às 21 horas, nunca que começaria às 21 horas! Não vi os avisos via twitter, vou para o SESC Pompeia pouco antes do horário de início. Chegando lá após errar o caminho uma ou duas vezes, ouço o Black Drawing Chalks tocando My Favorite Way de lá do lado de fora. Que delícia, já perdi um pouco do show. Descubro que o show do Amp já foi e que o do Black Drawing Chalks já está mais ou menos na metade. Logo pensei que devia ter perdido Magic Travel, música que ainda não vi eles tocando ao vivo, uma das minhas preferidas. Vou até perto do pessoal vendo o show, saco a câmera para tirar as fotos antes que seja tarde.

Paro na frente do guitarrista, Renato, e CLAQUE. Primeira foto, ficou legal, a iluminação está muito boa. Alguns passos para o lado, paro na frente do guitarrista e vocalista Victor, pego no fundo o baterista Douglas e CLAQUE, CLAQUE, CLAQUE, tiro três fotos de uma vez. A primeira delas ficou boa, legal. É aí que o segurança me chama e diz que não posso tirar fotos com uma câmera que não seja portátil. Descobri com outras pessoas que os motivos eram os mais esfarrapados possíveis. Perigo nas fotos irem parar na imprensa, direito de imagens das bandas, como se os caras que estão ali tocando naquele dia se importassem e não quisessem mais é que todos tirem fotos. Soube que alguém chegou a pedir autorização para quem as bandas e elas concederam, mas nem assim pôde tirar fotos.

Foi assim que descobri como funciona o SESC Pompeia, show começa às 21, acaba às 23h30, disso não passou. Fotos que não de celular ou câmera portátil? Só com autorização da área de assessoria de imprensa do SESC, afinal, o direito de imagem das bandas pode ser ferido com uma daquelas câmeras grandes, imagina aquilo voando direto no seu direito de imagem, fere muito!

Sobre os shows, Black Drawing Chalks mandou bem na metade que eu vi do show, depois descobri que eles não chegaram a tocar Magic Travel.O pessoal bem na frente do palco estava bem animado, combinando com a apresentação deles. Os caras têm uma presença de palco muito boa. Eles disseram que com o show do MQN veríamos onde eles aprenderam a fazer rock n roll.

Foi verdade, tinha apenas ouvido uma música ou outra dos goianos mais veteranos, os caras são bons no palco. Empolgam a audiência com a música e falando bastante merda entre uma música e outra, um show bem legal com muita cerveja voando pra todo lado.

Lição aprendida, se quiser tirar fotos no SESC peça permissão, afinal, direito de imagem não é coisa leve, ainda mais depois que os próprios donos da imagem permitirem que as fotos sejam tiradas. Acho que na próxima vez eu vou até a Pompeia pra experimentar o cinema mesmo...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Atividade Paranormal


Atividade Paranormal é um daqueles filmes que de tanto que falam você acaba ficando curioso para assistir. Particularmente acho filmes de terror um terror mesmo, me assustam logo para longe do cinema ou de onde for, dificilmente levo algum a sério. Atividade Paranormal foi uma das exceções e me fez ir ao cinema querendo assistir.

O ponto principal do filme é seu baixo orçamento e o modo como arrebentou no exterior, foi filmado com apenas 15mil dólares e ganhou 9,1 milhões de dólares na primeira semana de exibição nos EUA. Ao todo apenas quatro pessoas atuam no filme todo, sendo na grande maioria do tempo o casal Katie e Micah, que têm os mesmos nomes na vida real.

Desde o começo o filme tenta se colocar como uma espécie de registro real, documentário, ao fazer agradecimentos, como se alguém lhes tivessem fornecido os vídeos. Logo depois disso começa o filme em si. As primeiras cenas são de Micah testando a câmera que comprou para registrar os eventos paranormais que acontecem na vida de sua namorada desde que ela era apenas uma criança.

O filme demora pra pegar, chega a ser entediante no começo, quando imagens noturnas dos dois dormindo ficam passando, apenas para mostrar que nada aconteceu. Neste ponto quem quase dorme é o espectador. A tensão não é o suficiente para deixar a audiência atentamente olhando para a tela. Após uns bons minutos de filme sim, a audiência fica apenas esperando onde será o movimento ou qual será o som.

Um ponto altíssimo foi a falta de diálogos idiotas explicativos. As poucas explicações que são dadas sobre o casal ou sobre os fenômenos que acontecem com a garota são bem colocadas em um diálogo entre ela e um médium. Nada de “Oh meu deus Micah, estamos juntos há X anos...” ou esse tipo de fala que tenta contextualizar a história mas acaba apenas mostrando o quão mal pensado foi o filme e mal escrito o seu roteiro!

Atividade Paranormal mostra aos grandes filmes de terror, que tanto me aterrorizam, de Hollywood, geralmente remakes dos terrores japoneses, que um alto orçamento e efeitos especiais não são o suficiente para a construção de um clima de terror, o necessário é algo inexplicável que pode ou não surgir no filme e quem está longe de surgir nos Chamados da vida.


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

500 dias com ela


Já parece ser de praxe, todo ano sai o “indie movie do ano” que conquista o grande público. Foi assim com Pequena Miss Sunshine, há dois anos atrás e Juno, no ano passado. Este ano a novidade foi 500 dias com ela, dirigido por Marc Webb, conhecido pela direção de diversos clips.

O filme deixa claro desde o começo, não se trata de um filme de amor, mas sim um filme sobre o amor. Um cara conhece uma menina, uma menina conhece um cara, o cara se apaixona pela menina... ela não se apaixona por ele. Provavelmente seja essa quebra da fórmula, que está pra lá de saturada, que deixa o filme um tanto mais interessante.

Por outro lado pode ser que o mais interessante do filme seja a forma não linear com que ele é contado. É sempre perigoso tentar inovar neste quesito e contar a história de forma atemporal, e são dois pontos que fazem com que seja perigoso. O primeiro dele é o público não entender a história exatamente e o outro é algum furo grande passar no roteiro. Compreendi o filme perfeitamente, acho eu, e não encontrei nenhum furo no roteiro.

Agora, um dos altos do filme, o que vem se fazendo tradição também nos outros indie movies citados, é a ótima trilha sonora do filme. Pequena Miss Sunshine teve sua trilha especial com muitas músicas do Devotchka; teve apresentou ao mundo The Moldy Peaches com Anyone else but you (e acredito que eles não passaram disso...) e agora 500 dias nos faz ouvir The Smiths, Regina Spektor, Wolfmother e mesmo Pixies, com Here comes your man cantada no karaokê.

500 dias é muito agradável e legalzinho, mas passa longe de ser o melhor dos indie movies, falta o algo a mais nele, do jeito que Pequena Miss Sunshine surpreendeu, ou como Juno teve seu ótimo roteiro, 500 dias parece bater-se nessa parede do “plus a mais” e acaba sendo apenas um filme legal, por mais legal que ele seja. E ele é.

Trailer do filme:

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Banda Gentileza no Espaço Mais Soma

Uma das maiores surpresas na música nacional deste ano, a Banda Gentileza, lançou seu CD neste domingo, no Espaço Mais Soma, no meio da bagunçada e animada Vila Madalena. O sexteto curitibano tocou, se não me engano, todas músicas do álbum no palco que parecia prester a ceder a qualquer momento.

Durante a apresentação alguns pontos me surpreenderam. Confesso que no álbum, por mais agradável que a voz de Heitor possa ser, nunca me pareceu muito forte. No entanto ao vivo a voz parece muito mais potente e afinada, mesmo recitando o “créu”, na velocidade 2 mais ou menos. Outra boa surpresa, e que se deve à minha desatenção, e também à qualidade média das caixas de som embutidas do laptop, as linhas de baixo são ótimas, muito criativas e dão uma base ótima para as músicas.

A Banda Gentileza navega por entre diversos gêneros, desde rock, samba, chegando até a dar uma pisadinha no lado brega, ao colocar alguns versos da música “Garçom” de Reginaldo Rossi no final da ótima O indecifrável mistério de Jorge Tadeu.

Guitarras, baixo, bateria, saxofone, trompete, viola caipira, violino, concertina... os instrumentos utilizados são muitos, e entre eles, aparece também um cavaquinho, mas dessa vez tocado por Plínio Profeta, carioca que produziu o disco dos caras e deu as caras no show de lançamento para dar uma mãozinha na música Preguiça.

A Banda Gentileza chega e espero que seja para ficar, o cenário musical nacional vem me surpreendendo cada dia mais, quase sempre positivamente, um pouco dessa surpresa graças a Banda Gentileza, com um dos melhores lançamentos do ano.

Mais fotos do show no Flickr.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

As intermitências da morte

José Saramago é um daqueles autores que eu apenas pego o livro e leio, pouco me importa a história, a época ou o que quer que seja passado no livro. Sei que no final o livro, muito provavelmente me agradará.

Foi assim que comecei a ler As intermitências da morte. A trama começa no dia em que a magrela decide não mais matar os habitantes de um país. A partir daí, um narrador que nada tem a ver com a história passa a contar os desdobramentos do acontecimento.

Foi esse modo de contar a história que mais me cansou ao longo do livro. O narrador, muito distante das outras personagens, parece apenas falar, de modo enfadonho o tempo todo. Poucas são as vezes que personagens falam e quando o fazem, provavelmente não aparecerão novamente em momento nenhum do livro.

Ao longo de todo livro Saramago expõe os benefícios da morte, tão indesejada por todos. Mostra que toda nossa ânsia em alcançar o tão buscado elixir da vida, não é nada mais do que uma faca de dois gumes, uma tentativa de interromper um processo pelo qual passamos há milhares de anos.

Assim como em O evangelho segundo Jesus Cristo, na releitura da passagem bíblica em que Cristo devolve a vida a Lázaro, o autor no diz, através da voz de Maria Madalena, que nenhum pecador jamais pecou o suficiente para que merecesse morrer duas vezes. Em As intermitências da morte, Saramago evidencia que nenhum de nós também nunca pecou para que tivéssemos que viver eternamente, sofrendo cada dia mais os impactos da idade.

Assim, o livro caminha frio, em minha opinião graças à distância do narrados à história, e à pouca participação das personagens no livro. Até que a morte (sempre escrita em minúsculo, uma vez que, segundo ela mesma, não é a com nome maiúsculo, aquela Morte que acabará com todas as vidas de uma vez) depara-se com o violoncelista e sua resistência, finalmente toda necessidade do elemento humano na narração se faz presente.

Enquanto lia tinha certeza que aquele era o pior livro do Saramago que já li. No entanto o final veio para me desmentir, As intermitências da morte não é o pior livro de Saramago que já li, apenas o menos melhor dentre eles.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Salve Geral

Salve Geral foi o filme escolhido para representar o Brasil e lutar pelo tão sonhado Oscar de melhor filme estrangeiro. Muito provavelmente não será por agora que a estatueta chegará. Salve Geral, à primeira vista, é mais dos filmes que andam em alta. Humanizam o criminoso, expondo as mazelas sociais do país  ou outros fatores que levam jovens e mais jovens a cair no mundo das drogas e dos crimes. No entanto, o filme não se faz bem sucedido nem neste, nem em muitos aspectos.

O plano de fundo é um professora de piano, Lúcia (Andréa Beltrão), que tem seu filho preso após, digamos, uma noite ruim para ele. Com isso a professora, também formada em direito, passa a se envolver com este mundo, após conhecer Ruiva, uma advogada de meios um tanto heterodoxos (ou não, uma vez que estamos no Brasil).










Enfim, todo o enredo se constrói de modo que culmine no fatídico dia das mães em que o PCC, tratado como “Partido” no filme, parou São Paulo. Salve Geral, “inspirado em fatos reais” acaba por não cumprir a tentada humanização dos bandidos, desta vez, um espectador padrão do filme, não vê nenhum envolvimento emocional e muito menos proximidade com as atitudes apresentadas no filme.

Além desta falha, o filme apresenta alguns problemas com outros fatores técnicos. As cenas são muito curtas, o filme parece todo picotado, causando um pouco de irritação em alguns momentos. Os atores, talvez mau escolhidos e mau dirigidos, não entram na pele dos chefes do PCC, a ponto de um deles, em certa conversa, responder ao diretor do presídio “(...) um inferno para nós, senhor diretor. Para quem mais haveria de ser?”, com uma intonação de dar inveja a qualquer intelectual.

A lista dos possíveis filmes a serem enviados para concorrer ao Oscar pelo Brasil não era das melhores, não continha grandes surpresas. Mas por outro lado, é difícil de aceitar que Salve Geral era de fato a melhor das opções.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A turma de Dona Eunice

Conversa de elevador é sempre a mesma coisa, começa com o bom dia, depois parte para os comentários sobre o tempo. Na verdade as conversas de elevador costumam ser assim. Tenho uma vizinha que nunca fica satisfeita com as perguntas retóricas de sempre. Ela leva o “como vai” bem a sério. Não se contenta em balançar a cabeça e apenas devolver a pergunta. Ela realmente explica como está.

Dona Eunice sempre passeou pelos 6 andares que separam nosso andar do térreo com um leve sorriso. Não posso dizer que aquela senhorinha aposentada sempre foi a mais agradável das companhias, costumo sentir-me melhor quando encontro com a vizinha bonitona do andar de cima ou mesmo o síndico simpático dizendo quanto trabalho dá ser um síndico simpático.

Até hoje lembro do dia em que a vi totalmente diferente, parecia pálida, doente. Como sempre lhe perguntei como estava. A reclamação não foi como a de costume, principalmente sobre o dinheiro, e agradecendo a deus pela boa saúde no final das contas. Dona Eunice começou listando um tanto de doenças que começava com Artrite e terminava com Zoantropia. Ao final ainda culpou a nova lei que proibia os bingos, disse que sua válvula de escape sempre foi ir ao bingo e divertir-se com suas colegas.

Confesso que imaginei que no meio das doenças devia ter alguma culpada pelas alucinações da pobre senhora. Jogar bingo era um remédio? Inocentemente, com dó da pobre Dona Eunice, disse que precisando de qualquer coisa, que interfonasse e me chamasse que iria de pronto ajuda-la.

Eis que uma noite, no ápice do cansaço entre trabalho e estudos, meu interfone toca. Era Dona Eunice perguntando se podia visitar seu apartamento para ajudar com uma “coisinha”. Com muito medo fui até lá, quando chego umas cinco ou sete senhoras estão todas sentadas na sala, ao lado da televisão vejo um daqueles globos de sorteio em bingos e Dona Eunice com toda sua meiguice pergunta se eu poderia “girar e sortear”.

Toda semana participava do que me parecia uma reunião de seita ou coisa estranha do tipo. As velhinhas jogavam bingo, eu sorteava e eventualmente também participava. Meus dias foram ficando melhores e o stress diminuindo.

Até que um dia chego lá, silêncio. Toco a campainha, Dona Eunice abre a porte e pede desculpas por não ter me avisado. O bingo reabriu, não precisaria mais de minha ajuda. Fiquei sem bingo e sem minhas novas colegas. Artrite ainda não tenho, mas outras coisas já estão aparecendo, algumas decorrentes da falta de dinheiro outras da falta da agradável companhia das senhorinhas do bingo.

---

Crônica escrita para uma aula de jornalismo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Beirut em São Paulo

Após uma apresentação que deu o que falar em Salvador, devido ao teor alcoólico, o grupo Beirut passou aqui por São Paulo. Liderado por Zach Condon, o grupo, que mistura desde um ukulele (aquele instrumento havaiano) até instrumentos de sopro variados, era esperado para o Tim Festival de 2008, mas foi cancelado após o “fim” da banda.

O show começou com Nantes e foi evoluindo, passando de músicas do Gulag Orkestar, CD com influências dos Bálcãs, até o último CD March Of The Zapotec, que o nome já dá a dica da influência. Traços mexicanos são claramente observados.

Com dois bis após muitos gritos do público (apesar de eu nunca fica convencido que esses bis são sempre programados, sejam eles quantos forem) e uma adaptação de aquarela do Brasil, o grupo conseguiu levantar o público, que estava distribuído em cadeiras e mesas, tal qual um belo show do rei Roberto Carlos.




Vi uma resenha no Estado de São Paulo, dizia que o show foi monótono. Difícil concordar que um show que todo o público levantou de suas cadeiras destinadas a shows monótonos, tenha sido de fato, monótono. Certamente alguém sem qualquer intimidade com a banda pensará que foi monótono e repetitivo. Ouvindo o CD podemos ter essa impressão.

No entanto, alguém que já ouviu pelo menos algumas vezes cada CD e percebe que existem diferenças, no mínimo entre cada um deles, além da diversidade de sonoridade dentro de cada campo de influência – mexicana, francesa ou balcânica. Para estes, o show foi empolgante e satisfatório.

Os caras ainda fazem shows no Rio de Janeiro, no Circo Voador, que tentou conseguir um show extra com abaixo-assinado, mas o grupo disse que não fará o show, que está muito cansado, e depois, dia 18, será a vez de Recife.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Marina Silva - Quando o verde aparece sem as outras cores

Ao que tudo indica, a corrida presidencial nas eleições de 2010 sofreu uma grande mudança com a entrada de Marina Silva como presidenciável. A ex-ministra do Meio Ambiente, que deixou o cargo com uma atitude corajosa, alegando falta de apoio às políticas ambientais pelo governo Lula.Ex-militante pelo PT, Marina Silva deixou o partido em meio a toda confusão envolvendo o Presidente do Senado, José Sarney. Parece que será pelo Partido Verde que entrará na briga pela presidência.

Muitos parecem animadíssimos com uma nova cara com reais chances na corrida presidencial. Uma cara que vem com propostas atuais, tal como política ambiental, que tem sido deixada de lado pelo governo atual, principalmente em seu PAC. Outro ponto favorável à senadora é sua ética e dignidade. Cansados de tantos escândalos e podridão nos governos, estes pontos, que deveriam ser presentes na política em geral, devem ser um de seus maiores méritos em meio aos eleitores brasileiros.

Porém, existe um outro lado que não tem sido de fato pensado. Política ambiental é certamente um dos debates mais necessários no meio político hoje, no entanto, não é o único. Logo que a possibilidade de uma possível candidatura apareceu, ONGs ligadas ao meio ambiente, entre outros, vestiram a camisa de “Marina Silva Presidente”. A mesma Marina Silva que é absolutamente contra aborto, contra pesquisas com células tronco e tem uma visão ortodoxa evangélica.

Talvez já prevendo problemas com estas áreas, como noticiado pelo jornal A Folha de São Paulo, no dia 25 de agosto, o PV, que apoia a descriminalização do aborto, já discutiu com Marina Silva, como abordar o assunto. O resolvido é que a senadora não causará interferências nos debates no Congresso.

O debate ambiental é necessário, e com esta candidatura, os outros candidatos terão que apresentar propostas próprias direcionadas às políticas ambientais, porém o verde não deve vir sozinho na história toda. Outros aspectos devem ser friamente analisados, para que não haja arrependimento posterior e uma regressão nas políticas de outras áreas. A não ser que o ponto buscado seja exatamente “primeiro salvamos o mundo, depois pensamos no resto”.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O incansável Josh Homme

Ao que parece, Josh Homme não cansa mesmo. Após ser citado em tudo quanto é site, blog ou o que for de música, por ter produzido o novo CD dos Arctic Monkeys, Humbug, quase inteiro, o líder do Queens of the Stone Age, baterista do Eagles of Death Metal e idealizador e realizador das Desert Sessios, apareceu com uma nova banda, Them Crooked Voltures.



No papel parece ótimo, Josh Homme, na guitarra, no baixo apenas John Paul Jones, baixista do Led Zeppelin e para completar, com as baquetas aquele que um dia foi baterista do Nirvana e hoje líder do Foo Fighters, Dave Grohl. Não é a primeira vez que Grohl quebra algumas baquetas para que Josh Homme toque seus riffs energéticos por cima, Grohl já tocou em estúdio e ao vivo com o Queens of the Stone Age.

O projeto que parece bom no papel foi finalmente mostrado ao vivo para algumas poucas e, ao que tudo indica, sortudas almas. O Them Crooked Voltures fez um show no domingo em Chicago, alguns vídeos estão rolando no YouTube, mas do que eu vi, nada de aproveitável e compartilhável. O set contou com 12 músicas próprias, que provavelmente são as que formam o primeiro CD da banda, que será lançado no dia 23 de outubro.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Admirável Mundo/CD Novo

Pra mim, 1984 e Admirável Mundo Novo, têm uma conexão muito forte. Além de serem dois romances futuristas, cada qual com sua visão do futuro, li primeiro Admirável Mundo Novo e logo depois 1984.

Quanto às adaptações cinematográficas, 1984 teve sua última adaptação realizada exatamente no ano de 1984, poético, dirigida por Michael Readford, e tendo o protagonista Wilson, representado por John Hurt. Quanto a Admirável Mundo Novo, o romance de Huxley contou apenas com algumas adaptações para TV e curtas. A história ainda não havia sido realmente explorada nos cinemas.

Para mudar este quadro, Riddley Scott, em conjunto com a produtora Appian Way, de Leonardo DiCaprio estão organizando uma adaptação do romance. Com isso devo dizer que no mundo cinematográfico, provavelmente AMN deve ganhar de 1984, e sua fraca adaptação. O placar no embate entre as duas obras ficaria 1 a 1, já que em termos literários, sou bem mais 1984.

--------------

Desde que o novo CD do Arctic Monkeys vazou, essa foi a primeira aparição deles. Foi no programa de Jimmy Fallon, mais um desses inúmeros Talk Shows existentes pelo mundo. Eles apresentaram a muito boa Crying Lightning, do CD Humbug, que chegou pra mostrar que a banda inglesa não é do tipo que vai ficar sentada lançando CDs com a mesma fórmula que veio dando certo. houve uma boa mudança do primeiro para o segundo, mas nada comparável ao que aconteceu com esse terceiro CD.

O interessante é que a mudança não se restringiu ao estilo do CD, as caras deles estão beeem diferentes, quando vi a primeira foto de divulgação deles assim fiquei um tempo achando que era outra banda. Foram-se as espinhas, vieram os cabelos grandes.
Fica aqui a apresentação da macacada:

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Nuevo

Agora sim, sem precisar dormir logo pra poder acordar na hora...

A ideia principal é escrever com maior regularidade, talvez mais de uma vez por dia até. Deixar o blog menos preso, sem ter que escrever diversos parágrafos sobre um assunto e de forma parcialmente formal, séria. Pensei em escrever sobre música, deixar o blog com um assunto só, mas também não quero ele tão preso, então fica assim, o que aparecer na cabeça, vai pro blog.

Se der certo deu, se não der...

-------

É impressão minha ou estão superestimando o The Killers? O Tim Festival de 2007 teve um público bom, mas não se pode tomar como referência o The Killers como a atração que trouxe a massa para o festival. Além deles tinham alguns pequenos nomes como Arctic Monkeys e Bjork. Pois é, os Monkeys estavam em um dos melhores momentos da carreira e bom, acho a Bjork chata, mas é a Bjork, muita gente foi, viu ela e foi embora.



Agora, depois do Radiohead tentar, sem êxito, encher a Chácara do Jockey, vem The Killers no dia 21 de novembro. Preço básico, 200 reais a pista normal e 350 a pista vip. Parece brincadeira, não vejo os Killers como uma banda que levará muita gente a se enfiar na Chácara do Jockey pagando 200 reais, talvez no meio tempo apareça algum reforço, tomara.

Além do preço absurdo, a organização parece não ter lido os inúmeros comentários sobre os shows do Radiohead e Iron Maiden, que não foram dos melhores sobre o local. Difícil acesso, pior ainda pra voltar pra casa, cheiro de cocô pra todo lado... mas é bonitinho, tem bastante árvores.

Piiiii

Tchum... Tchum... Tchum...

Pi, Pi, Pi, Pi, Pi...

Metáforas sonoras à parte, isso foi o blog sendo reanimado, acho que agora com a explicação, talvez dê pra entender. Tô com algumas ideias pra ele, amanhã tento começar a colocar em prática.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cotas raciais

No último domingo, o programa Canal Livre da Band, promoveu uma discussão sobre “cotas raciais nas universidades”. Como convidados foram o sociólogo Demétrio Magnoli e o integrante da ONG Educafro Frei Davi. O defensor das faladas cotas era o Frei. (Quase que inocentemente cometi o erro de dizer que o defensor era obviamente o Frei, devido à sua participação na ONG ou algo do tipo, porém após um breve segundo de pensamento, o que se fez óbvio foi que não é porque uma ONG apóia movimentos negros em busca de igualdade, necessariamente apoiaria uma iniciativa como esta das cotas.)

O Frei utilizava como justificativa para a adoção de cotas raciais, uma certa indenização pelos anos e anos em que os negros foram submetidos à escravidão no Brasil, que após abolida, não foram de nenhuma forma indenizados e nem foram alvo de políticas de inserção dos mesmos na sociedade. É difícil discordar que em parte ele está certo, obviamente, se uma política de adaptação houvesse sido adotada após os anos de escravidão, e os negros tivessem recebido ajuda para conseguir empregos e terras para trabalho, certamente a situação social brasileira seria, e em muito, diferente da lamentável na qual nos encontramos.

No entanto, nos vemos em situação difícil, como dizer aos jovens garotos, que após uma análise, são considerados não-negros, portanto não beneficiados por um sistema de cotas racista – uma vez que é baseado em raças, é racista. Quando questionado sobre como este sistema é social, uma vez que crianças pobres não-negras não seriam beneficiadas, enquanto que um jovem negro de uma família que tem uma renda mensal de 20 salários mínimos seria, sim, beneficiado, Frei parecia sempre recorrer aos anos e anos de escravidão e à sociedade desigual na qual vivemos.

Acredito que seja no mínimo questionável esta atitude de, cada vez mais, inserir na mente de jovens que existe tal distinção entre as raças e beneficiar apenas uma em detrimento da outra, sendo que as duas necessitam da mesma ajuda, caso pensemos socialmente a questão.

O sociólogo comentou a lei de cotas existente na Nigéria. A Nigéria é formada por inúmeras etnias, as cotas são dadas, nos diferentes estados, à etnia com maior população no local. Imagine, com isso a maior parte da população, passa a apoiar o partido político que tomou tal iniciativa, com a maior parte da população de cada estado, já sabemos o que acontece em uma eleição, certamente um efeito nunca imaginado pelos políticos.

Ironicamente, ao ser entrevistado, o Ministro da Secretária da Igualdade Racial, Edson Santos, ex-deputado pelo PT do Rio de Janeiro, disse que as cotas raciais são sociais, visto que o método seria o seguinte. Metade das vagas seria separada para alunos de colégios públicos (certamente esta é a parte social), dentro desta metade fazemos a seguinte análise, caso 70% da população local seja negra, 70% desta metade de vagas será exclusivamente destinada a negros. Não importa se os alunos negros e não-negros se encontram na mesma situação social, se passam pelas mesmas necessidades, se os pais de ambas famílias sofrem do mesmo modo para botar comida na mesa. É inacreditável e, certamente inesperada, a semelhança com o método anteriormente comentado, não? E sim, escrevi corretamente, a secretaria é de IGUALDADE racial.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Democracia donde estás?

Conversando com mais uns três ou quatro colegas hoje, descobri que nenhum deles tinha conhecimento do que foi a notícia mais divertida que li durante a semana. O presidente boliviano Evo Morales estava em greve de fome para que as novas leis eleitorais fossem aprovadas pelo congresso.

Em votação popular, as novas leis haviam sido aprovadas, no entanto o Congresso boliviano, constituído majoritariamente por integrantes da oposição, não aprovava a lei de uma vez. A explicação é das mais simples, um dos novos itens da nova constituição eleitoral, é que pode haver uma reeleição para presidente. Até hoje, o presidente era eleito para um mandato de cinco anos, sem possibilidade de reeleição. Com a mudança, será possível uma nova eleição para mais um mandato de cinco anos, e a oposição teme que Morales consiga tal feito, governando a Bolívia até 2015.

Confesso que tenho medo, não me agrada nem um pouco um duplo mandato de 10 anos, parece-me tempo demais para alguém governar um país. Já acho 8 anos tempo o suficiente. Engraçado que o que tenho como melhor modelo, era exatamente o boliviano, um simples mandato de 5 anos. Fechado este parênteses volto ao que falava.

Mandatos, reeleições e coisas do tipo, principalmente se contextualizadas na América Latina, acabam por nos remeter a Hugo Chaves. De forma nenhuma pretendo dizer que as votações, do tipo que ambos presidentes citados aqui andam fazendo, não são legítimas. Coloca-se o assunto ao povo, que vota a favor ou não. A pergunta é, de que modo o povo escolhe. Sabe-se que durante os processos de votação, principalmente na Venezuela, panfletistas da oposição eram levados por integrantes das forças armadas, enquanto que os que apoiavam as idéia pró governo, eram autorizados, indiretamente, a panfletar, por mais que não fosse permitido na data e lugar.

O que cabe a ser analisado é que papel a mídia faz em todo processo, sendo entendido como mídia todo tipo de comunicação e não apenas rádio ou televisão, mas sim carros de som, papéis e outdoors também. Com isso passamos à pergunta: existe realmente tal liberdade? É verdadeiramente legítimo todo este processo, ou revistas e edições de debates eleitorais podem acabar por minar toda a liberdade democrática de um povo?

Melhor parar por aqui enquanto falo destas pobres democracias comprometidas...

PS: O título é uma brincadeira com o post do Sr. Graziani, acerca deste (quase) mesmo assunto, no Sambuteco!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Valsa com Bashir

Ele era o favorito ao Oscar de melhor filme estrangeiro, no entanto o filme japonês tirou-o de suas mãos. Animação israelense com tom documental e certas vezes análises psicológicas. Uau, e isso funciona? A resposta é sim, certamente sim.

A história mostra a busca de Ari Folman - que além de personagem principal, dirigiu e escreveu o filme - para uma grande dúvida que o atormenta: onde ele estava e o que fazia no dia que as falanges libanesas massacraram aproximadamente dois mil civis palestinos nos acampamentos de Sabra e Shatila, em Beirut. Para encontrar a resposta Ari Folmam fala com ex-companheiros que também estiveram na guerra e assim reconstrói o passado.

Com as entrevistas, o que temos são diversos relatos através dos quais cenas de guerras são apresentadas. O fato de ser tudo uma animação chega a incomodar, certamente quase acostumados a ver tiros e sangue voando em filmes, quando isso nos chega através de um desenho animado, o choque pode ser maior.



O principal ponto do filme é o efeito que a guerra causa aos soldados psicologicamente. No entanto, está enganado aquele que disser que o filme apenas mostra isso sem se envolver de alguma forma política, que não se faz crítica nenhuma a quem quer que seja, o que aparece algumas vezes na internet. Parece impossível que um filme sobre um assunto tão delicado, lançado em tempos ainda mais delicados, não se coloque de lado nenhum do conflito, e certamente não é Valsa com Bashir que o faz.

Cada pequena cena parece ter um fundo político. Seja um garoto empunhando um RPG e atirando em um grupo de soldados israelenses, ou ainda um bombardeio incessante que tenta destruir uma possível ameaça, mas que acaba por destruir uma cidade inteira enquanto busca cumprir seu objetivo.

A trilha sonora também chama a atenção. Bastante rock israelense e com letras extremamente políticas é algo diferente e interessante para se conhecer e parece acompanhar bem os jovens precocemente enviados à guerra.

O maior prêmio seria a conquista do Oscar, o que pensando bem, seria algo complicado, visto onde acontece a premiação e quem são os votantes. Mas mesmo a simples indicação já é uma grande conquista para a competência com que o filme aborda um assunto tão grave, de uma forma um tanto heterodoxa.

PS: Ah, tinha copiado o texto duas vezes antes...

quarta-feira, 18 de março de 2009

I Congresso de Jornalismo Cultural

O flyer virtual se apresenta belo e imponente, além de longo e fino como uma lumbriga. No topo, sobreposto a um fundo preto, se apresentam palavras em branco, cinza a amarelo: I Congresso de Jornalismo Cultural. Do período de 4 a 8 de maio, o TUCA (Teatro da PUC) abrigará tal convenção. Os participantes variam desde professores das mais diversas áreas, sejam elas da cultura ou não, até jornalistas e profissionais da própria cultura.

Empolgante.

O flyer não nos trás qualquer espécie de informações sobre como participar ou algo parecido, apenas um site. É entrando nele que as informações aparecem. A palavra preço não aparece, é o eufemismo “investimento” que se faz presente. A bagatela de 930 reais é cobrada para participar de todos os dias, ou então apenas 230 por dia, caso nem todos lhe interessem. “Garanta sua vaga!”

Não me importo que cobrem quanto dinheiro quiserem para que se possa assistir a quem for em um Congresso, sejam professores de universidades privadas e públicas ou ainda profissionais da área de interesse.

O que realmente incomoda em tudo isso é a participação de pessoas que defendem a democratização do ensino, do conhecimento ou do raio que for. O que incomoda são professores de uma das maiores universidades do mundo, que é a Universidade de São Paulo se sujeitarem a palestrar apenas para quem tiver disponível a exorbitante quantia requerida para que a inscrição seja efetuada. Incomoda que alguém como José Arbex Júnior, editor de uma revista como a Caros Amigos, que tenta, exatamente, fugir de tudo que a grande mídia é e não é, e que tem as ideologias que tem, aceitar sentar em uma mesa onde seus espectadores apenas o verão após terem feito o, diga-se de passagem, delicado “investimento”.

E que nenhum desses venha me falar sobre democratização de ensino ou cultura... ou sequer sobre democracia!



PS: Eu acho que tenho esse problema em não postar nada por muito tempo e do nada voltar e postar com muita frequência!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Propriedade

Finalmente eles conseguiram. Depois de muita briga e alguma, porém pouca, divulgação da mídia, a comunidade “Discografias” do orkut foi fechada. A comunidade disponibilizava links de álbuns completos para downloads.

Após muita pressão e ameaças da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) – entidade formada pelas grandes gravadoras, estúdios de cinema entre outros – a comunidade chegou ao seu fim no dia 15 de março.

Segundo a APCM, a comunidade violava direitos autorais ao disponibilizar gratuitamente os links. No texto de despedida, o dono na comunidade diz que “Não é com o fechamento desta comunidade e outras equivalentes que as gravadoras irão aumentar seus lucros”. O debate parece interminável.

De um lado temos as gravadoras, seus lucros menores, seus preços cada vez maiores e alegações de propriedade intelectual. Parece que o modo encontrado para fugir da crise pela qual estão passando nos últimos anos tem sido aumentar cada vez mais os preços de CDs e DVDs e assim tentar, de alguma maneira, compensar os lucros cada vez menores.

Do outro lado temos as pessoas, sim, pessoas que se recusam a pagar 40 reais por um CD e por isso acabam por recorrer à internet e materiais disponibilizados “ilegalmente”.

Que propriedade intelectual é esta que para se ouvir um punhado de músicas, tomando o preço de um CD como 40 reais, o cidadão precisa desembolsar aproximadamente 10% de um salário mínimo? Que propriedade é esta que o verdadeiro dono, o artista, não tem liberdade caso queira disponibilizar gratuitamente, já que quem comanda a distribuição e decide os preços são as gravadoras? E mais, que intelectualidade é esta que parece cada vez mais distante e inacessível a quem ela realmente deveria chegar?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Menino Voador

O céu e as nuvens e as estrelas sempre fascinaram Danilo desde pequeno. Dizia sua mãe que quando o colocou pela primeira vez sentado perto de uma janela ele olhou o céu por horas a fio, mas sabe como são as mães, dizem coisas que nem sempre condizem com o que aconteceu, tal é o encanto que têm por seus filhos.

Logo que deu seus primeiros passos ele já subia em lugares e parecia cada vez mais querer chegar ao lugar mais alto que pudesse, e então de lá pulava. A Mãe e o Pai ficavam loucos, brigavam com o pobre Danilo que apenas queria chegar mais perto do céu.

“O que você vai ser quando crescer, Danilo?”, tinha a resposta para esta pergunta na ponta da língua. “Astronauta ou piloto, quero chegar pertinho do céu”. Fora a Mãe quem lhe ensinara que assim ele poderia chegar perto do que o encantava tanto. Astronauta ou Piloto.

Continuou crescendo e brincando e sonhando. Até que um dia subiu no muro de sua casa, o muro que sempre subia, todos já estavam acostumados com ele pulando de lá de cima, sonhando que um dia sairia voando antes que tocasse o chão. Percebeu que não havia sido daquela vez, tocou o pé direito na grama verde, não com a mesma firmeza que sempre o fizera, o pé não agüentou e virou. Danilo bateu com a cabeça no muro. “Não foi nada”, disse a Mãe, “Antes de casar sara”, disse o Pai.

A batida causou uma leve hemorragia, o tipo de coisa sobre a qual o narrado ignora e prefere abster-se de comentários e detalhes, o que importa é que foi o suficiente para que Danilo morresse dois dias depois. O sofrimento foi enorme. Decidiram que Danilo seria cremado e suas cinzas jogadas ao mar para que pudesse ficar sempre por lá contemplando o céu infinito.

A Mãe e o Pai subiram na pedra mais alta. De frente para o mar e contra o vento. Foi assim que a Mãe jogou as cinzas. O resultado foi trágico, as cinzas voaram, um pouco se depositou no ombro da Mãe, um outro tanto no cabelo do Pai e um outro tanto continuou voando e voando. Se Danilo estivesse vivo descordaria de mim, o resultado não foi trágico, foi maravilhoso. Agora Danilo estava como sempre quis estar... voando.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Quando viemos do Egipto, viviam na terra a que chamamos de Israel outras nações que tivemos de combater, naqueles dias os estrangeiros éramos nós e o Senhor deu-nos ordem para que matássemos e aniquilássemos os que se opunham à sua vontade, A terra foi-nos prometida, mas tinha de ser conquistada, não a comprámos nem nos foi oferecida, E hoje é sob um domínio estrangeiros que estamos vivendo, a terra que havíamos tornado nossa deixou de o ser, A ideia de Israel mora eternamente no espírito do Senhor, por isso, onde quer que esteja o seu povo, reunido ou disperso, aí estará o Israel terrestre, Daí se deduz, suponho, que em toda parte a parte onde nós, judeus, estivermos, sempre os outros homens serão estrangeiros, Aos olhos do Senhor, sem dúvida, Mas o estrangeiro que viva connosco será, segundo a palavra do Senhor, nosso compatriota e a ele devemos amar como a nós mesmos porque fomos estrangeiros no Egipto, O Senhor o disse, Concluo, então, que o estrangeiro que devemos amar é aquele que, vivendo connosco, não seja tão poderoso que nos oprima, como é, nos tempos de hoje o caso dos romanos, Concluis bem, Agora vais dizer-me, segundo a te aconcelhem as tuas luzes, se, chegando nós um dia a ser poderosos, permitirá o Senhor que oprimamos os estrangeiros que o mesmo Senhor mandou amar, Israel não poderá querer senão o que o Senhor quer, e o Senhor, porque escolheu este povo, quererá tudo quanto for bom para Israel, Mesmo que seja não amar a quem se devia, Sim, se essa for, finalmente, a sua vontade, De Israel ou do Senhor, De ambos, porque são um, Não violarás o direito do estrangeiro, palavra do Senhor, Quando o estrangeiro o tiver e lho reconheçamos, disse o escriba.

[trecho de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago]

PS: "Israel anuncia pausa em bombardeios para entrada de ajuda humanitária em Gaza"
Graças ao Senhor.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Paz

Dois lados, cada um tenta defender o seu. Os ataques contra Israel foram legítimos e sua resposta está sendo exagerada, diz a grande maioria do mundo muçulmano. Para os isralenses os ataques não passaram de terrorismo e toda a resposta não passa nem perto de ser desproporcional.

N’O Estado de São Paulo de hoje dois artigos em páginas seguidas continuam a briga. No primeiro deles temos um morador da Faixa de Gaza e do outro um jurista americano professor de Harvard.

Para o jurista, Alan Dershowitz, “a ação militar israelense em Gaza é totalmente justificada de acordo com o direito internacional, e Israel deveria ser elogiada por seus atos de defesa contra o terrorismo internacional”. É assim que o artigo começa.

Ao longo do texto ainda temos passagens como “na guerra entre os terroristas que gostam da morte e as democracias que amam a vida” e “Na realidade era como se [no cessar-fogo] Israel dissesse ao Hamas: se vocês pararem com seus crimes de guerra matando civis inocentes, nós suspenderemos todas as ações militares legítimas e deixaremos de matar seus terroristas” e para finalizar com as citações o comentário do professor sobre a resposta israelense ser desproporcional “Em primeiro lugar, não há equivalência legal entre a matança deliberada de civis inocentes e a matança deliberada de combatentes do Hamas”.

As passagens mostram claramente a visão deste professor americano defensor da vida e democracia. Enquanto que o louco muçulmano da página anterior, residente da Cidade de Gaza, conta que um de seus empregados chegou um dia chocado após ver uma menina de 10 anos ser fuzilada por um helicóptero israelense.

Para Israel as chances de um acordo de paz a essa altura é totalmente descartada e sua busca pela paz continuará através de uma invasão e mais bombas jogadas sobre as cabeças dos miseráveis moradores da região. Que paz será esta?