sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A turma de Dona Eunice

Conversa de elevador é sempre a mesma coisa, começa com o bom dia, depois parte para os comentários sobre o tempo. Na verdade as conversas de elevador costumam ser assim. Tenho uma vizinha que nunca fica satisfeita com as perguntas retóricas de sempre. Ela leva o “como vai” bem a sério. Não se contenta em balançar a cabeça e apenas devolver a pergunta. Ela realmente explica como está.

Dona Eunice sempre passeou pelos 6 andares que separam nosso andar do térreo com um leve sorriso. Não posso dizer que aquela senhorinha aposentada sempre foi a mais agradável das companhias, costumo sentir-me melhor quando encontro com a vizinha bonitona do andar de cima ou mesmo o síndico simpático dizendo quanto trabalho dá ser um síndico simpático.

Até hoje lembro do dia em que a vi totalmente diferente, parecia pálida, doente. Como sempre lhe perguntei como estava. A reclamação não foi como a de costume, principalmente sobre o dinheiro, e agradecendo a deus pela boa saúde no final das contas. Dona Eunice começou listando um tanto de doenças que começava com Artrite e terminava com Zoantropia. Ao final ainda culpou a nova lei que proibia os bingos, disse que sua válvula de escape sempre foi ir ao bingo e divertir-se com suas colegas.

Confesso que imaginei que no meio das doenças devia ter alguma culpada pelas alucinações da pobre senhora. Jogar bingo era um remédio? Inocentemente, com dó da pobre Dona Eunice, disse que precisando de qualquer coisa, que interfonasse e me chamasse que iria de pronto ajuda-la.

Eis que uma noite, no ápice do cansaço entre trabalho e estudos, meu interfone toca. Era Dona Eunice perguntando se podia visitar seu apartamento para ajudar com uma “coisinha”. Com muito medo fui até lá, quando chego umas cinco ou sete senhoras estão todas sentadas na sala, ao lado da televisão vejo um daqueles globos de sorteio em bingos e Dona Eunice com toda sua meiguice pergunta se eu poderia “girar e sortear”.

Toda semana participava do que me parecia uma reunião de seita ou coisa estranha do tipo. As velhinhas jogavam bingo, eu sorteava e eventualmente também participava. Meus dias foram ficando melhores e o stress diminuindo.

Até que um dia chego lá, silêncio. Toco a campainha, Dona Eunice abre a porte e pede desculpas por não ter me avisado. O bingo reabriu, não precisaria mais de minha ajuda. Fiquei sem bingo e sem minhas novas colegas. Artrite ainda não tenho, mas outras coisas já estão aparecendo, algumas decorrentes da falta de dinheiro outras da falta da agradável companhia das senhorinhas do bingo.

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Crônica escrita para uma aula de jornalismo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Beirut em São Paulo

Após uma apresentação que deu o que falar em Salvador, devido ao teor alcoólico, o grupo Beirut passou aqui por São Paulo. Liderado por Zach Condon, o grupo, que mistura desde um ukulele (aquele instrumento havaiano) até instrumentos de sopro variados, era esperado para o Tim Festival de 2008, mas foi cancelado após o “fim” da banda.

O show começou com Nantes e foi evoluindo, passando de músicas do Gulag Orkestar, CD com influências dos Bálcãs, até o último CD March Of The Zapotec, que o nome já dá a dica da influência. Traços mexicanos são claramente observados.

Com dois bis após muitos gritos do público (apesar de eu nunca fica convencido que esses bis são sempre programados, sejam eles quantos forem) e uma adaptação de aquarela do Brasil, o grupo conseguiu levantar o público, que estava distribuído em cadeiras e mesas, tal qual um belo show do rei Roberto Carlos.




Vi uma resenha no Estado de São Paulo, dizia que o show foi monótono. Difícil concordar que um show que todo o público levantou de suas cadeiras destinadas a shows monótonos, tenha sido de fato, monótono. Certamente alguém sem qualquer intimidade com a banda pensará que foi monótono e repetitivo. Ouvindo o CD podemos ter essa impressão.

No entanto, alguém que já ouviu pelo menos algumas vezes cada CD e percebe que existem diferenças, no mínimo entre cada um deles, além da diversidade de sonoridade dentro de cada campo de influência – mexicana, francesa ou balcânica. Para estes, o show foi empolgante e satisfatório.

Os caras ainda fazem shows no Rio de Janeiro, no Circo Voador, que tentou conseguir um show extra com abaixo-assinado, mas o grupo disse que não fará o show, que está muito cansado, e depois, dia 18, será a vez de Recife.