quarta-feira, 13 de maio de 2009

Cotas raciais

No último domingo, o programa Canal Livre da Band, promoveu uma discussão sobre “cotas raciais nas universidades”. Como convidados foram o sociólogo Demétrio Magnoli e o integrante da ONG Educafro Frei Davi. O defensor das faladas cotas era o Frei. (Quase que inocentemente cometi o erro de dizer que o defensor era obviamente o Frei, devido à sua participação na ONG ou algo do tipo, porém após um breve segundo de pensamento, o que se fez óbvio foi que não é porque uma ONG apóia movimentos negros em busca de igualdade, necessariamente apoiaria uma iniciativa como esta das cotas.)

O Frei utilizava como justificativa para a adoção de cotas raciais, uma certa indenização pelos anos e anos em que os negros foram submetidos à escravidão no Brasil, que após abolida, não foram de nenhuma forma indenizados e nem foram alvo de políticas de inserção dos mesmos na sociedade. É difícil discordar que em parte ele está certo, obviamente, se uma política de adaptação houvesse sido adotada após os anos de escravidão, e os negros tivessem recebido ajuda para conseguir empregos e terras para trabalho, certamente a situação social brasileira seria, e em muito, diferente da lamentável na qual nos encontramos.

No entanto, nos vemos em situação difícil, como dizer aos jovens garotos, que após uma análise, são considerados não-negros, portanto não beneficiados por um sistema de cotas racista – uma vez que é baseado em raças, é racista. Quando questionado sobre como este sistema é social, uma vez que crianças pobres não-negras não seriam beneficiadas, enquanto que um jovem negro de uma família que tem uma renda mensal de 20 salários mínimos seria, sim, beneficiado, Frei parecia sempre recorrer aos anos e anos de escravidão e à sociedade desigual na qual vivemos.

Acredito que seja no mínimo questionável esta atitude de, cada vez mais, inserir na mente de jovens que existe tal distinção entre as raças e beneficiar apenas uma em detrimento da outra, sendo que as duas necessitam da mesma ajuda, caso pensemos socialmente a questão.

O sociólogo comentou a lei de cotas existente na Nigéria. A Nigéria é formada por inúmeras etnias, as cotas são dadas, nos diferentes estados, à etnia com maior população no local. Imagine, com isso a maior parte da população, passa a apoiar o partido político que tomou tal iniciativa, com a maior parte da população de cada estado, já sabemos o que acontece em uma eleição, certamente um efeito nunca imaginado pelos políticos.

Ironicamente, ao ser entrevistado, o Ministro da Secretária da Igualdade Racial, Edson Santos, ex-deputado pelo PT do Rio de Janeiro, disse que as cotas raciais são sociais, visto que o método seria o seguinte. Metade das vagas seria separada para alunos de colégios públicos (certamente esta é a parte social), dentro desta metade fazemos a seguinte análise, caso 70% da população local seja negra, 70% desta metade de vagas será exclusivamente destinada a negros. Não importa se os alunos negros e não-negros se encontram na mesma situação social, se passam pelas mesmas necessidades, se os pais de ambas famílias sofrem do mesmo modo para botar comida na mesa. É inacreditável e, certamente inesperada, a semelhança com o método anteriormente comentado, não? E sim, escrevi corretamente, a secretaria é de IGUALDADE racial.

2 comentários:

Du Graziani disse...

É realmente revoltante pensar em cotas raciais no século XXI. Você sabe a minha opinião e é muito importante que você sucite esses debates novamente. É sabido cientificamente que negros e brancos são mais semelhantes que seus pares de cor. A ideia de reparos historicos é antiquada e não contribui em nada para o processo de evolução de nossa sociedade. Se tal mazela se tornasse uma verdade, imagine quantas benefícios teriam que ser dados aos índios ?? Mas nisso ninguem diz ...
Parabéns pela iniciativa e pelo belo texto !!! E por nos atuliazar no "predicados" ...

Felipe Lobo disse...

Concordo em gênero, número e grau, Victão. Cotas são sempre discutíveis, porque devem ser medidas temporárias. Mas colocar cotas raciais é uma complicação. Como dizer quem é de que etnia? Sem contar que deixa de ser social para ser étnico, ainda que saibamos que negros são muito mais desfavorecidos socialmente proporcionalmente me relação às demais etnias.
Gostei de como vc colocou!