quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Atividade Paranormal


Atividade Paranormal é um daqueles filmes que de tanto que falam você acaba ficando curioso para assistir. Particularmente acho filmes de terror um terror mesmo, me assustam logo para longe do cinema ou de onde for, dificilmente levo algum a sério. Atividade Paranormal foi uma das exceções e me fez ir ao cinema querendo assistir.

O ponto principal do filme é seu baixo orçamento e o modo como arrebentou no exterior, foi filmado com apenas 15mil dólares e ganhou 9,1 milhões de dólares na primeira semana de exibição nos EUA. Ao todo apenas quatro pessoas atuam no filme todo, sendo na grande maioria do tempo o casal Katie e Micah, que têm os mesmos nomes na vida real.

Desde o começo o filme tenta se colocar como uma espécie de registro real, documentário, ao fazer agradecimentos, como se alguém lhes tivessem fornecido os vídeos. Logo depois disso começa o filme em si. As primeiras cenas são de Micah testando a câmera que comprou para registrar os eventos paranormais que acontecem na vida de sua namorada desde que ela era apenas uma criança.

O filme demora pra pegar, chega a ser entediante no começo, quando imagens noturnas dos dois dormindo ficam passando, apenas para mostrar que nada aconteceu. Neste ponto quem quase dorme é o espectador. A tensão não é o suficiente para deixar a audiência atentamente olhando para a tela. Após uns bons minutos de filme sim, a audiência fica apenas esperando onde será o movimento ou qual será o som.

Um ponto altíssimo foi a falta de diálogos idiotas explicativos. As poucas explicações que são dadas sobre o casal ou sobre os fenômenos que acontecem com a garota são bem colocadas em um diálogo entre ela e um médium. Nada de “Oh meu deus Micah, estamos juntos há X anos...” ou esse tipo de fala que tenta contextualizar a história mas acaba apenas mostrando o quão mal pensado foi o filme e mal escrito o seu roteiro!

Atividade Paranormal mostra aos grandes filmes de terror, que tanto me aterrorizam, de Hollywood, geralmente remakes dos terrores japoneses, que um alto orçamento e efeitos especiais não são o suficiente para a construção de um clima de terror, o necessário é algo inexplicável que pode ou não surgir no filme e quem está longe de surgir nos Chamados da vida.


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

500 dias com ela


Já parece ser de praxe, todo ano sai o “indie movie do ano” que conquista o grande público. Foi assim com Pequena Miss Sunshine, há dois anos atrás e Juno, no ano passado. Este ano a novidade foi 500 dias com ela, dirigido por Marc Webb, conhecido pela direção de diversos clips.

O filme deixa claro desde o começo, não se trata de um filme de amor, mas sim um filme sobre o amor. Um cara conhece uma menina, uma menina conhece um cara, o cara se apaixona pela menina... ela não se apaixona por ele. Provavelmente seja essa quebra da fórmula, que está pra lá de saturada, que deixa o filme um tanto mais interessante.

Por outro lado pode ser que o mais interessante do filme seja a forma não linear com que ele é contado. É sempre perigoso tentar inovar neste quesito e contar a história de forma atemporal, e são dois pontos que fazem com que seja perigoso. O primeiro dele é o público não entender a história exatamente e o outro é algum furo grande passar no roteiro. Compreendi o filme perfeitamente, acho eu, e não encontrei nenhum furo no roteiro.

Agora, um dos altos do filme, o que vem se fazendo tradição também nos outros indie movies citados, é a ótima trilha sonora do filme. Pequena Miss Sunshine teve sua trilha especial com muitas músicas do Devotchka; teve apresentou ao mundo The Moldy Peaches com Anyone else but you (e acredito que eles não passaram disso...) e agora 500 dias nos faz ouvir The Smiths, Regina Spektor, Wolfmother e mesmo Pixies, com Here comes your man cantada no karaokê.

500 dias é muito agradável e legalzinho, mas passa longe de ser o melhor dos indie movies, falta o algo a mais nele, do jeito que Pequena Miss Sunshine surpreendeu, ou como Juno teve seu ótimo roteiro, 500 dias parece bater-se nessa parede do “plus a mais” e acaba sendo apenas um filme legal, por mais legal que ele seja. E ele é.

Trailer do filme:

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Banda Gentileza no Espaço Mais Soma

Uma das maiores surpresas na música nacional deste ano, a Banda Gentileza, lançou seu CD neste domingo, no Espaço Mais Soma, no meio da bagunçada e animada Vila Madalena. O sexteto curitibano tocou, se não me engano, todas músicas do álbum no palco que parecia prester a ceder a qualquer momento.

Durante a apresentação alguns pontos me surpreenderam. Confesso que no álbum, por mais agradável que a voz de Heitor possa ser, nunca me pareceu muito forte. No entanto ao vivo a voz parece muito mais potente e afinada, mesmo recitando o “créu”, na velocidade 2 mais ou menos. Outra boa surpresa, e que se deve à minha desatenção, e também à qualidade média das caixas de som embutidas do laptop, as linhas de baixo são ótimas, muito criativas e dão uma base ótima para as músicas.

A Banda Gentileza navega por entre diversos gêneros, desde rock, samba, chegando até a dar uma pisadinha no lado brega, ao colocar alguns versos da música “Garçom” de Reginaldo Rossi no final da ótima O indecifrável mistério de Jorge Tadeu.

Guitarras, baixo, bateria, saxofone, trompete, viola caipira, violino, concertina... os instrumentos utilizados são muitos, e entre eles, aparece também um cavaquinho, mas dessa vez tocado por Plínio Profeta, carioca que produziu o disco dos caras e deu as caras no show de lançamento para dar uma mãozinha na música Preguiça.

A Banda Gentileza chega e espero que seja para ficar, o cenário musical nacional vem me surpreendendo cada dia mais, quase sempre positivamente, um pouco dessa surpresa graças a Banda Gentileza, com um dos melhores lançamentos do ano.

Mais fotos do show no Flickr.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

As intermitências da morte

José Saramago é um daqueles autores que eu apenas pego o livro e leio, pouco me importa a história, a época ou o que quer que seja passado no livro. Sei que no final o livro, muito provavelmente me agradará.

Foi assim que comecei a ler As intermitências da morte. A trama começa no dia em que a magrela decide não mais matar os habitantes de um país. A partir daí, um narrador que nada tem a ver com a história passa a contar os desdobramentos do acontecimento.

Foi esse modo de contar a história que mais me cansou ao longo do livro. O narrador, muito distante das outras personagens, parece apenas falar, de modo enfadonho o tempo todo. Poucas são as vezes que personagens falam e quando o fazem, provavelmente não aparecerão novamente em momento nenhum do livro.

Ao longo de todo livro Saramago expõe os benefícios da morte, tão indesejada por todos. Mostra que toda nossa ânsia em alcançar o tão buscado elixir da vida, não é nada mais do que uma faca de dois gumes, uma tentativa de interromper um processo pelo qual passamos há milhares de anos.

Assim como em O evangelho segundo Jesus Cristo, na releitura da passagem bíblica em que Cristo devolve a vida a Lázaro, o autor no diz, através da voz de Maria Madalena, que nenhum pecador jamais pecou o suficiente para que merecesse morrer duas vezes. Em As intermitências da morte, Saramago evidencia que nenhum de nós também nunca pecou para que tivéssemos que viver eternamente, sofrendo cada dia mais os impactos da idade.

Assim, o livro caminha frio, em minha opinião graças à distância do narrados à história, e à pouca participação das personagens no livro. Até que a morte (sempre escrita em minúsculo, uma vez que, segundo ela mesma, não é a com nome maiúsculo, aquela Morte que acabará com todas as vidas de uma vez) depara-se com o violoncelista e sua resistência, finalmente toda necessidade do elemento humano na narração se faz presente.

Enquanto lia tinha certeza que aquele era o pior livro do Saramago que já li. No entanto o final veio para me desmentir, As intermitências da morte não é o pior livro de Saramago que já li, apenas o menos melhor dentre eles.