quarta-feira, 11 de novembro de 2009

As intermitências da morte

José Saramago é um daqueles autores que eu apenas pego o livro e leio, pouco me importa a história, a época ou o que quer que seja passado no livro. Sei que no final o livro, muito provavelmente me agradará.

Foi assim que comecei a ler As intermitências da morte. A trama começa no dia em que a magrela decide não mais matar os habitantes de um país. A partir daí, um narrador que nada tem a ver com a história passa a contar os desdobramentos do acontecimento.

Foi esse modo de contar a história que mais me cansou ao longo do livro. O narrador, muito distante das outras personagens, parece apenas falar, de modo enfadonho o tempo todo. Poucas são as vezes que personagens falam e quando o fazem, provavelmente não aparecerão novamente em momento nenhum do livro.

Ao longo de todo livro Saramago expõe os benefícios da morte, tão indesejada por todos. Mostra que toda nossa ânsia em alcançar o tão buscado elixir da vida, não é nada mais do que uma faca de dois gumes, uma tentativa de interromper um processo pelo qual passamos há milhares de anos.

Assim como em O evangelho segundo Jesus Cristo, na releitura da passagem bíblica em que Cristo devolve a vida a Lázaro, o autor no diz, através da voz de Maria Madalena, que nenhum pecador jamais pecou o suficiente para que merecesse morrer duas vezes. Em As intermitências da morte, Saramago evidencia que nenhum de nós também nunca pecou para que tivéssemos que viver eternamente, sofrendo cada dia mais os impactos da idade.

Assim, o livro caminha frio, em minha opinião graças à distância do narrados à história, e à pouca participação das personagens no livro. Até que a morte (sempre escrita em minúsculo, uma vez que, segundo ela mesma, não é a com nome maiúsculo, aquela Morte que acabará com todas as vidas de uma vez) depara-se com o violoncelista e sua resistência, finalmente toda necessidade do elemento humano na narração se faz presente.

Enquanto lia tinha certeza que aquele era o pior livro do Saramago que já li. No entanto o final veio para me desmentir, As intermitências da morte não é o pior livro de Saramago que já li, apenas o menos melhor dentre eles.

2 comentários:

Clara disse...

Como é o final? hehe

Não vou ler mesmo depois dessa sua crítica... Mas quero ler o Evangelho segundo Jesus Cristo, desse ser bom (apesar daqueles parágrafos eternos).

E essa reflexão da morte é interessante... a gente sempre tende a vê-la como algo negativo e esquecemos de pensar nos outros significados da morte.

beijos!

Thaís disse...

Olá, Victor!

Li este post e não pude deixar de vir meter o bedelho por aqui. rs

Sou suspeitíssima para falar de Saramago. Adoro aquele velhinho, sabe? E “Intermitências da Morte” é um dos livros mais genais dele. Confesso que, ao terminar a leitura, tive a mesma impressão de ser um livro mediano. Mas depois que vc. para e pensa em toda a sutileza descrita ali, ele se torna uma obra-prima. Desde a sacada genial da greve da magrela (como vc. diz), passando pela descrição dos solos de violoncelo e pelo sentimento de ternura que nasce da morte pelo violoncelista. É lindo! É delicado! É sublime! Espero que vc. tb perceba isso.

É como eu costumo dizer: obras-primas são feitas para ruminar sobre elas. Nunca tenho certeza imediata se algo é excelente logo de cara. Geralmente, sempre me parecem obras medianas à primeira vista. Mas depois de pensar um pouquinho, chego sempre à conclusão de que não; é sim uma obra-prima e que merece todo meu respeito e consideração.

Um abraço!