quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Menino Voador

O céu e as nuvens e as estrelas sempre fascinaram Danilo desde pequeno. Dizia sua mãe que quando o colocou pela primeira vez sentado perto de uma janela ele olhou o céu por horas a fio, mas sabe como são as mães, dizem coisas que nem sempre condizem com o que aconteceu, tal é o encanto que têm por seus filhos.

Logo que deu seus primeiros passos ele já subia em lugares e parecia cada vez mais querer chegar ao lugar mais alto que pudesse, e então de lá pulava. A Mãe e o Pai ficavam loucos, brigavam com o pobre Danilo que apenas queria chegar mais perto do céu.

“O que você vai ser quando crescer, Danilo?”, tinha a resposta para esta pergunta na ponta da língua. “Astronauta ou piloto, quero chegar pertinho do céu”. Fora a Mãe quem lhe ensinara que assim ele poderia chegar perto do que o encantava tanto. Astronauta ou Piloto.

Continuou crescendo e brincando e sonhando. Até que um dia subiu no muro de sua casa, o muro que sempre subia, todos já estavam acostumados com ele pulando de lá de cima, sonhando que um dia sairia voando antes que tocasse o chão. Percebeu que não havia sido daquela vez, tocou o pé direito na grama verde, não com a mesma firmeza que sempre o fizera, o pé não agüentou e virou. Danilo bateu com a cabeça no muro. “Não foi nada”, disse a Mãe, “Antes de casar sara”, disse o Pai.

A batida causou uma leve hemorragia, o tipo de coisa sobre a qual o narrado ignora e prefere abster-se de comentários e detalhes, o que importa é que foi o suficiente para que Danilo morresse dois dias depois. O sofrimento foi enorme. Decidiram que Danilo seria cremado e suas cinzas jogadas ao mar para que pudesse ficar sempre por lá contemplando o céu infinito.

A Mãe e o Pai subiram na pedra mais alta. De frente para o mar e contra o vento. Foi assim que a Mãe jogou as cinzas. O resultado foi trágico, as cinzas voaram, um pouco se depositou no ombro da Mãe, um outro tanto no cabelo do Pai e um outro tanto continuou voando e voando. Se Danilo estivesse vivo descordaria de mim, o resultado não foi trágico, foi maravilhoso. Agora Danilo estava como sempre quis estar... voando.

3 comentários:

Alice Agnelli disse...

ai, victor. assim vc deixa as pessoas maravilhadamente tristes.

*

"mas sabe como são as mães, dizem coisas que nem sempre condizem com o que aconteceu, tal é o encanto que têm por seus filhos."

lembra, foi minha mãe que disse que eu tinha, uma vez, grampeado meu próprio dedo.

sempre achei essa história meio improvável.

Fontes disse...

Não sei se fico feliz ou triste com essa história.

E acho inteiramente plausível você ter grampeado o próprio dedo, Alice.

Maria Joana disse...

É linda. Lindamente triste essa história.

E concordo com o Fontes, Alice, é plausível que você tenha grampeado o dedo.