segunda-feira, 30 de março de 2009

Valsa com Bashir

Ele era o favorito ao Oscar de melhor filme estrangeiro, no entanto o filme japonês tirou-o de suas mãos. Animação israelense com tom documental e certas vezes análises psicológicas. Uau, e isso funciona? A resposta é sim, certamente sim.

A história mostra a busca de Ari Folman - que além de personagem principal, dirigiu e escreveu o filme - para uma grande dúvida que o atormenta: onde ele estava e o que fazia no dia que as falanges libanesas massacraram aproximadamente dois mil civis palestinos nos acampamentos de Sabra e Shatila, em Beirut. Para encontrar a resposta Ari Folmam fala com ex-companheiros que também estiveram na guerra e assim reconstrói o passado.

Com as entrevistas, o que temos são diversos relatos através dos quais cenas de guerras são apresentadas. O fato de ser tudo uma animação chega a incomodar, certamente quase acostumados a ver tiros e sangue voando em filmes, quando isso nos chega através de um desenho animado, o choque pode ser maior.



O principal ponto do filme é o efeito que a guerra causa aos soldados psicologicamente. No entanto, está enganado aquele que disser que o filme apenas mostra isso sem se envolver de alguma forma política, que não se faz crítica nenhuma a quem quer que seja, o que aparece algumas vezes na internet. Parece impossível que um filme sobre um assunto tão delicado, lançado em tempos ainda mais delicados, não se coloque de lado nenhum do conflito, e certamente não é Valsa com Bashir que o faz.

Cada pequena cena parece ter um fundo político. Seja um garoto empunhando um RPG e atirando em um grupo de soldados israelenses, ou ainda um bombardeio incessante que tenta destruir uma possível ameaça, mas que acaba por destruir uma cidade inteira enquanto busca cumprir seu objetivo.

A trilha sonora também chama a atenção. Bastante rock israelense e com letras extremamente políticas é algo diferente e interessante para se conhecer e parece acompanhar bem os jovens precocemente enviados à guerra.

O maior prêmio seria a conquista do Oscar, o que pensando bem, seria algo complicado, visto onde acontece a premiação e quem são os votantes. Mas mesmo a simples indicação já é uma grande conquista para a competência com que o filme aborda um assunto tão grave, de uma forma um tanto heterodoxa.

PS: Ah, tinha copiado o texto duas vezes antes...

quarta-feira, 18 de março de 2009

I Congresso de Jornalismo Cultural

O flyer virtual se apresenta belo e imponente, além de longo e fino como uma lumbriga. No topo, sobreposto a um fundo preto, se apresentam palavras em branco, cinza a amarelo: I Congresso de Jornalismo Cultural. Do período de 4 a 8 de maio, o TUCA (Teatro da PUC) abrigará tal convenção. Os participantes variam desde professores das mais diversas áreas, sejam elas da cultura ou não, até jornalistas e profissionais da própria cultura.

Empolgante.

O flyer não nos trás qualquer espécie de informações sobre como participar ou algo parecido, apenas um site. É entrando nele que as informações aparecem. A palavra preço não aparece, é o eufemismo “investimento” que se faz presente. A bagatela de 930 reais é cobrada para participar de todos os dias, ou então apenas 230 por dia, caso nem todos lhe interessem. “Garanta sua vaga!”

Não me importo que cobrem quanto dinheiro quiserem para que se possa assistir a quem for em um Congresso, sejam professores de universidades privadas e públicas ou ainda profissionais da área de interesse.

O que realmente incomoda em tudo isso é a participação de pessoas que defendem a democratização do ensino, do conhecimento ou do raio que for. O que incomoda são professores de uma das maiores universidades do mundo, que é a Universidade de São Paulo se sujeitarem a palestrar apenas para quem tiver disponível a exorbitante quantia requerida para que a inscrição seja efetuada. Incomoda que alguém como José Arbex Júnior, editor de uma revista como a Caros Amigos, que tenta, exatamente, fugir de tudo que a grande mídia é e não é, e que tem as ideologias que tem, aceitar sentar em uma mesa onde seus espectadores apenas o verão após terem feito o, diga-se de passagem, delicado “investimento”.

E que nenhum desses venha me falar sobre democratização de ensino ou cultura... ou sequer sobre democracia!



PS: Eu acho que tenho esse problema em não postar nada por muito tempo e do nada voltar e postar com muita frequência!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Propriedade

Finalmente eles conseguiram. Depois de muita briga e alguma, porém pouca, divulgação da mídia, a comunidade “Discografias” do orkut foi fechada. A comunidade disponibilizava links de álbuns completos para downloads.

Após muita pressão e ameaças da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) – entidade formada pelas grandes gravadoras, estúdios de cinema entre outros – a comunidade chegou ao seu fim no dia 15 de março.

Segundo a APCM, a comunidade violava direitos autorais ao disponibilizar gratuitamente os links. No texto de despedida, o dono na comunidade diz que “Não é com o fechamento desta comunidade e outras equivalentes que as gravadoras irão aumentar seus lucros”. O debate parece interminável.

De um lado temos as gravadoras, seus lucros menores, seus preços cada vez maiores e alegações de propriedade intelectual. Parece que o modo encontrado para fugir da crise pela qual estão passando nos últimos anos tem sido aumentar cada vez mais os preços de CDs e DVDs e assim tentar, de alguma maneira, compensar os lucros cada vez menores.

Do outro lado temos as pessoas, sim, pessoas que se recusam a pagar 40 reais por um CD e por isso acabam por recorrer à internet e materiais disponibilizados “ilegalmente”.

Que propriedade intelectual é esta que para se ouvir um punhado de músicas, tomando o preço de um CD como 40 reais, o cidadão precisa desembolsar aproximadamente 10% de um salário mínimo? Que propriedade é esta que o verdadeiro dono, o artista, não tem liberdade caso queira disponibilizar gratuitamente, já que quem comanda a distribuição e decide os preços são as gravadoras? E mais, que intelectualidade é esta que parece cada vez mais distante e inacessível a quem ela realmente deveria chegar?