quarta-feira, 18 de junho de 2008

Certezas

O homem sentado olhava o movimento na rua, a brisa do final da tarde batia em seu cabelo, arrumado, de um jeito não o parecesse, olhava, pessoas passavam. O que estariam elas pensando? Saberiam elas para o que corriam, sabia ela por que corriam? Nada parecia importar, apenas o fato de que todas corriam. Alguns nem olhavam para os lados, apenas passavam com aquele passo acelerado. Pareciam procurar nos olhares dos outros andarilhos algum consolo ou conforto, quem sabe até mesmo uma resposta. Por que corro? Por que estou aqui? Para onde vou?

Infelizmente, para os que procuram alguma resposta, elas não são oferecidas pelos outros que dividem a calçada. Tudo que ganham em troca são olhares avoados e distraídos, ouvidos cheios por fones que alienam e tocam os tons da solidão escolhida, mãos nos bolsos e expressões que passam apenas uma certeza, a de que não será aquela a pessoa a responder.

No canto de seu olho o homem parece ver algum movimento diferente do constante vai e vem. Uma moça que andava tão apressada e solitária quanto todos os outros deixa uma simples folha cair e continua andando, sem perceber. Um jovem ao passar percebe a folha caindo, abaixa-se, pega a folha e corre atrás da moça. Entrega-lhe a folha e em um ato ordinário sorri e pergunta se a moça está bem, ela lhe responde apressadamente que sim, balança a cabeça em um movimento frenético e logo se vira para continuar andando.

O homem sentado continua observando e percebe que o sorriso ordinário permanece nos lábios do jovem, a moça vira-se e um sorriso aparece também nos seus lábios. De uma forma incrível, como se fosse algo extremamente transmissível, o mesmo surge em seus lábios, e o homem sentado percebe que talvez não esteja tudo perdido. Assim, ele levanta-se, respira fundo e tranqüilamente pula a janela para dentro da sala.

A única certeza que possui é que a certeza que possuía há poucos minutos já não é uma certeza. O homem de pé coloca o paletó, contempla o céu azul e vira as costas; naquele momento ele tem uma certeza, a de que naquele dia ele voltará para casa e por mais difícil que tudo pareça ele continuará de pé.

4 comentários:

Fontes disse...

^^ gostei! Muito!

É interessante ler coisas diferentes de vez em quando, principalmente quando a coisa é muito bem escrita e te faz dar um sorrisinho no canto da boca quando você acaba. Mas ei, continue com suas postagens cotidianas, levemente irônicas e com um humor peculiar. Eu acho elas deliciosas.

Victor disse...

Hahaha, eu tava pensando em escrever alguma assim de novo, aí ontem vc me deu um empurrão, Fontes!
Leu a outra que eu falei, a mais antiga?

Unknown disse...

doce.

Alice Agnelli disse...

caramba.
posso dizer que esse seu texto responde a pergunta do meu?

a pergunta que, de certo modo, me angustiava um pouco.
e respondeu assim: de repente.
tão de repente quanto a cena que o homem sentado viu.
tão de repente quanto a certeza dele deixou de ser certeza.

sem querer, victor, acho que vc respondeu como que todos nós vivemos, vivemos e vivemos... percebendo que talvez não esteja tudo perdido.