Dia 17 de junho de 2009 a Polícia Militar entrou em confrontou com alunos e funcionários da USP durante uma manifestação. A justificativa oficial, apresentada pela PM na mídia, foi a de que durante a manifestação, uma patrulha da PM foi agredida por estudantes dentro do Campus Butantã, resultando nas ações da PM, que não tinha outra solução senão dispersar os manifestantes na base do cacete e do gás lacrimogêneo.
Lembrei deste episódio muitas vezes lendo Rota 66, do jornalista Caco Barcellos. Ao longo do livro somos expostos à brutalidade da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), tida como uma das divisões de elite da Polícia Militar de São Paulo. A Rota é conhecida pela sua violência. Essa violência é sempre fundamentada, pela própria Rota, dizendo que eles lidam com criminosos muito violentos, inclusive o tipo mais odiado por todos, os estupradores.
Rota 66 mostra que não é bem assim. O primeiro caso exposto por Caco Barcellos é o caso da Rota 66, que após uma longa perseguição pelas ruas de São Paulo, resultando em uma batida, os membros da Rota assassinaram três rapazes que desceram de um Fusca implorando por suas vidas. O interessante deste caso é que, pela primeira vez, os assassinados eram garotes de classe alta, o que causou uma investigação aprofundada por parte da perícia. Após pronto, o inquérito mostrava que houve excesso de violência, fraudes por parte dos polícias e três garotos assassinados sem necessidade, de forma pra lá de brutal. Nem assim os policiais foram condenados ou deixaram de receber menções honrosas por seu bravo trabalho.
Como esse, muitos outros casos são apresentados, sempre com os mesmos elementos. Perseguição desnecessária - partindo apenas de suspeitas por parte do policiais-, assassinatos, adulteração da cena do crime e mentiras.
Os casos, tanto os descritos no livro como o caso da pancadaria na USP, por mais que sejam totalmente diferentes - tendo em comum alguns pontos, como o excesso de força da PM – têm em comum um ponto de extrema importância, a utilização da mídia como fundamentadora para essas ações. Em todos casos descritos no livro, os autores dos assassinatos sempre se referem aos mortos como criminosos cruéis e a mídia sempre reproduziu estas afirmações, como se fossem justificativas para surras em públicos e tortura. Em nenhum momento coloca-se em dúvida se os argumentos de uma entidade tão importante para a sociedade, que é a Polícia Militar, sejam reais ou não, apenas aceita-se.
No caso da USP somos colocados novamente frente ao problema da fundamentação, a mídia reproduziu o argumento dos militares de que os alunos agrediram os policiais (fato que foi desmentido por alunos que se encontravam no local, em conversas pela USP) e com isso a sociedade aceita os absurdos que foram cometidos, os excessos de violência e compartilham da visão de que vagabundo tem mais é que apanhar e assim a vida continua. Os inocentes vão sendo mortos e os argumentos dos assassinos, reproduzidos por uma mídia viciada e, de certa maneira, preguiçosa, são aceitos e compartilhados pela sociedade.